História da Solenidade
de Cristo Rei
fonte: Padre Paulo Ricardo de Azevedo Jr.
Viva Cristo Rei!
Sabe-se que a Igreja
encerra seu Ano Litúrgico com a Solenidade Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do
Universo. No entanto, poucos se dão conta de que se trata de uma festa
relativamente recente, pois só foi instituída em 1925, portanto há menos
de cem anos.
Mas o que levou o
papa Pio XI a dedicar a primeiríssima encíclica de seu pontificado à criação de
uma festa de Cristo Rei? (cf. carta encíclica Quas primas, 11/12/1925).
No início do século
XX, o mundo, que ainda estava se recuperando da Primeira Guerra Mundial, fora
varrido por uma onda de secularismo e de ódio à Igreja, como nunca visto na
história do Ocidente. O fascismo na Itália, o nazismo na Alemanha, o comunismo
na Rússia, a revolução maçônica no México, anti-clericalismos e governos
ditatoriais grassavam por toda parte.
É neste contexto
que, sem medo de ser literalmente “politicamente incorreto”, o papa Pio XI
institui uma festa litúrgica para celebrar uma verdade de nossa fé: mesmo em
meio a ditaduras e perseguições à Igreja, Nosso Senhor Jesus Cristo continua a
reinar, soberano, sobre toda a história da humanidade.
Recordar que Jesus é
Rei do Universo foi um gesto de coragem do Santo Padre. Com as revoluções que
se seguiram ao fim do primeiro conflito mundial, em 1917, o título de Cristo
Rei tornara-se um tanto impopular. Se o Papa tivesse exaltado Jesus como
profeta, mestre, curador de enfermos, servo humilde, vá lá! Qualquer outro
título teria sido mais aceitável. Mas Cristo Rei?!…
Mesmo assim, nadando
contra a correnteza e se opondo ao secularismo ateu e anti-clerical, o Vigário
de Cristo na terra instituiu esta solenidade para nos recordar que todas as
coisas culminam na plenitude do Cristo Senhor: “Eu sou o Alfa e o Ômega, o
Princípio e o Fim de todas as coisas” (Ap 1, 8). É necessário reavivar a
fé na restauração e na reparação universal realizadas em Cristo Jesus, Senhor
da vida e da história.
Com esta solenidade
o Papa Pio XI esperava algumas mudanças no cenário mundial:
Que as nações reconhecessem que a Igreja dever estar livre do poder do Estado (Quas primas, 32).
Que os líderes das nações reconhecessem o devido respeito e obediência a Nosso Senhor Jesus Cristo (Quas primas, 31).
Que os fieis, com a celebração litúrgica e espiritual desta solenidade, retomassem coragem e força e renovassem sua submissão a Nosso Senhor, fazendo com que ele reine em seus corações, suas mentes, suas vontades e seus corpos (Quas primas, 33).
Encerrar o Ano
Litúrgico com a Solenidade de Cristo Rei é consagrar a Nosso Senhor o mundo
inteiro, toda a nossa história e toda nossa vida. É entregar à sua infinita
misericórdia um mundo onde reina o pecado.
Pilatos pergunta a
Jesus se ele é rei. Nosso Salvador responde que seu Reino não é deste mundo. Ou
seja, não é deste mundo “inventado” pelo homem e pelo pecado: o mundo da
injustiça, da escravidão, da violência, do ódio, da morte e da dor. Ele é rei
do Reino de seu Pai e, como rei-pastor, desde o alto da cruz, guia a sua Igreja
em meio às tribulações.
Sabemos que o
Reinado de Cristo não se realizará por um triunfo histórico da Igreja. É isto
que nos recorda o Catecismo da Igreja Católica em seu número 677. Mesmo assim,
no final, haverá sem dúvida uma vitória de Deus sobre o mal. Só que esta
vitória acontecerá como acontecem todas as vitórias de Deus: através da morte e
da ressurreição. A Igreja só entrará na glória do Reino se passar por uma
derradeira Páscoa. A Esposa deve seguir o caminho do Esposo.
É assim que, nesta
festa, o manto vermelho de Cristo assinala a realeza de Nosso Senhor, mas
também nos recorda o sangue de tantos mártires Cristãos de nossa história
recente. Foram fieis católicos que, ouvindo os apelos do Sucessor de Pedro, não
tiveram medo de entregar suas próprias vidas e de morrer aos brados
de “viva Cristo Rei!”