Iniciamos
o ano de 2022 saudando com filial devoção, a Santa Maria, Mãe de Deus.
Em livro, São João Paulo II explicou porque Maria é Mãe de Deus
Theotokos
A contemplação do mistério do nascimento do Salvador tem
levado o povo cristão não só a dirigir-se a Virgem Santa como a Mãe de Jesus,
como também a reconhecê-la como Mãe de Deus. Essa verdade foi aprofundada e
compreendida como pertencente ao patrimônio da fé da Igreja, já desde os
primeiros séculos da era cristã, até ser solenemente proclamada pelo Concílio
de Éfeso no ano 431.
Na primeira comunidade cristã, enquanto cresce
entre os discípulos a consciência de que Jesus é o Filho de Deus, resulta bem
mais claro que Maria é a Theotokos, a Mãe de Deus. Trata-se de um título
que não aparece explicitamente nos textos evangélicos, embora eles recordem a
Mãe de Jesus e afirmem que Ele é Deus (Jo. 20,28; cf. 05,18; 10,30.33). Em todo
o caso, Maria é apresentada como Mãe do Emanuel, que significa Deus conosco
(cf. mt. 01,22-23).
Theotokos não tem nada a ver com
mitologia
Já no século III, como se deduz de um antigo
testemunho escrito, os cristãos do Egito dirigiam-se a Maria com esta
oração: Sob a vossa proteção procuramos refúgio, Santa Mãe de Deus! Não
desprezeis as súplicas de nós, que estamos na prova, e livrai-nos de todo
perigo, ó Virgem gloriosa e bendita (Da Liturgia das Horas). Neste antigo
testemunho, a expressão Theotokos, Mãe de Deus, aparece pela primeira vez de
forma explícita.
Na mitologia pagã, acontecia com frequência que
alguma deusa fosse apresentada como Mãe de um deus. Zeus, por exemplo, deus
supremo, tinha por Mãe a deusa Reia. Esse contexto facilitou talvez, entre os
cristãos, o uso do título Theotokos, Mãe de Deus, para a Mãe de Jesus. Contudo,
é preciso notar que esse título não existia, mas foi criado pelos cristãos,
para exprimir uma fé que não tinha nada a ver com a mitologia pagã, a fé na
concepção virginal, no seio de Maria, d’Aquele que, desde sempre, era o Verbo
Eterno de Deus.
O Concílio de Éfeso proclamou Maria Mãe de
Deus
No século IV, o termo Theotokos é já
de uso frequente no Oriente e no Ocidente. A piedade e a teologia fazem
referência, de modo cada vez mais frequente, a esse termo, já encontrado no
patrimônio de fé da Igreja.
Compreende-se, por isso, o grande movimento de
protesto, que se manifestou no século V, quando Nestório pôs em dúvida a
legitimidade do título Mãe de Deus. Ele, de fato, propenso a considerar Maria
somente como Mãe do homem Jesus, afirmava que só era doutrinalmente correta a
expressão Mãe de Cristo. Nestório era induzido a esse erro pela sua dificuldade
de admitir a unidade da pessoa de Cristo, e pela interpretação errônea da
distinção entre as duas naturezas divina e humana presentes n’Ele.
O Concílio de Éfeso, no ano 431, condenou as
suas teses e, afirmando a subsistência da natureza divina e da natureza humana
na única pessoa do Filho, proclamou Maria Mãe de Deus.
As dificuldades e as objeções apresentadas por
Nestório oferecem-nos agora a ocasião para algumas reflexões úteis, a fim de
compreendermos e interpretarmos de modo correto esse título.
O que quer dizer Theotokos
A expressão Theotokos, que literalmente
significa aquela que gerou Deus, à
primeira vista pode resultar surpreendente; suscita, com efeito, a questão
sobre como é possível que uma criatura humana gere Deus. A resposta da fé da
Igreja é clara: a maternidade divina de Maria refere-se só a geração humana do
Filho de Deus e não, ao contrário, à sua geração divina. O Filho de Deus foi
desde sempre gerado por Deus Pai e é Lhe consubstancial. Nessa geração eterna,
Maria não desempenha, evidentemente, nenhum papel. O Filho de Deus, porém, há
dois mil anos, assumiu a nossa natureza humana e foi então concebido e dado à
luz por Maria.
Proclamando Maria Mãe de Deus, a Igreja quer,
portanto, afirmar que Ela é a Mãe do Verbo encarnado, que é Deus. Por isso, a
sua maternidade não se refere a toda a Trindade, mas unicamente a segunda
Pessoa, ao Filho que, ao encarnar-se, assumiu dela a natureza humana.
A
maternidade é relação entre pessoa e pessoa: uma mãe não é Mãe apenas do corpo
ou da criatura física saída do seu seio, mas da pessoa que ela gera. Maria,
portanto, tendo gerado segundo a natureza humana a pessoa de Jesus, que é a
pessoa divina, é Mãe de Deus.
Ao proclamar Maria, Mãe de Deus, a Igreja
professa com uma única expressão a sua fé acerca do Filho e da Mãe. Essa união
emerge já no Concílio de Éfeso. Com a definição da maternidade divina de Maria,
os padres queriam evidenciar a sua fé à divindade de Cristo. Não obstante as
objeções, antigas e recentes, acerca da oportunidade de atribuir esse título a
Maria, os cristãos de todos os tempos, interpretando corretamente o significado
dessa maternidade, tornaram-no uma expressão privilegiada da sua fé na
divindade de Cristo e do seu amor para com a Virgem.
Theotokos garantia da
realidade da Encarnação
Na Theotokos, a Igreja, por um lado,
reconhece a garantia da realidade da Encarnação, porque como afirma Santo Agostinho,” se a Mãe fosse
fictícia, seria fictícia também a carne… fictícia seriam as cicatrizes da
ressurreição” (Tract. In Ev. loannis, 8,6-7). Por outro lado, ela contempla com
admiração e celebra com veneração a imensa grandeza conferida a Maria por
Aquele que quis ser seu Filho. A expressão Mãe de Deus remete ao Verbo de Deus
que, na Encarnação, assumiu a humildade da condição humana, para elevar o homem
à filiação divina. Mas esse título, à luz da dignidade sublime conferida à
Virgem de Nazaré, proclama também a nobreza da mulher e sua altíssima vocação.
Com efeito, Deus trata Maria como pessoa livre e responsável, e não realiza a
Encarnação de seu Filho senão depois de ter obtido o seu consentimento.
Seguindo
o exemplo dos antigos cristãos do Egito, os fiéis entregam-se àquela que, sendo
Mãe de Deus, pôde obter do divino Filho as graças da libertação dos perigos e
da salvação eterna.
Extraído do livro: “A Virgem Maria de São João Paulo II”
Fonte: Canção Nova