PALAVRA DE DEUS - O ENCONTRO DO HOMEM COM DEUS
Setembro, mês da Bíblia
Ao logo dos séculos,
Deus se deixa encontrar pelo homem através de Sua Palavra, que manifesta a Sua
santidade, poder, compaixão e amor por cada um de nós. A Bíblia contém a
Palavra de Deus que, em leitura inspirada pelo Espírito Santo, nos leva a uma
comunicação maior com o Autor da vida.
Segue trechos
do livro Discípulos e Servidores da palavra de Deus na missão da Igreja. E,
entenda-se, a Igreja somos cada um de nós.
DEI VERBUM – VERBUM DOMINI – DISCÍPULOS E
SERVIDORES...
A Palavra de
Deus não se revela para instruir a respeito de realidades sobrenaturais, mas
para comunicar a salvação na forma de um encontro: Deus entra em diálogo com o
ser humano.
Deus se dá a
conhecer no diálogo que revela o amor entre as pessoas divinas. Ele nos convida a participar desse diálogo e
entrar em comunhão com ele.
A Palavra de Deus está viva e atuante hoje na comunidade eclesial. Deus
continua a falar aos seus filhos em Jesus Cristo, pelo Espírito Santo. Vale-se
da comunidade dos fiéis que celebra a liturgia, para que a sua Palavra se
propague e seja conhecida, e seu nome seja louvado por todas as nações.
·
Concede-nos a
Comunhão com o Pai e com Jesus Cristo, na graça do Espírito Santo.
·
É o Espírito
Santo o intérprete amoroso da Palavra.
·
“Não é possível
uma compreensão autêntica da revelação cristã fora da ação do Paráclito” (VD,
15)
A Palavra de Deus é um “acontecimento” através do
qual o próprio Deus entra no mundo, age, cria, intervém na História do seu povo
para orientar sua Caminhada. “Ela é como
a chuva e a neve que descem do céu e para lá não voltam, sem terem regado a
terra, tornando-a fecunda e fazendo-a germinar, dando semente ao semeador e o
pão ao que come. Ela não torna a ele sem ter produzido fruto e sem ter cumprido
a sua vontade”. Ela é poder e força criadora de Deus que se dirige pessoalmente
a cada um, hoje. Nesta perspectiva, as celebrações da Palavra, sob a ação do
Espírito Santo, se constituem em memória reveladora dos acontecimentos
maravilhosos da salvação. O testemunho de vida do próprio ministro da Palavra
tem sua importância.
Mais que
revelação do amor de Deus, a Palavra é seu fundamento:
Antes do
princípio de tudo pela Palavra criadora, “Ela já existia” (Jo 1,1), e “tudo o
que foi feito foi feto por meio dela” (Jo 1,3)
No meio da
sinfonia, a determinado ponto, um “solo”. A melodia é confiada a um só
instrumento, uma única voz. Este “solo” é Jesus. (Sinfonia clássica: três
movimentos – sua pré-existência, sua encarnação e seu retorno ao Pai).
MEMÓRIA E PRESENÇA DE JESUS CRISTO
A Palavra de
Deus indica “a pessoa de Jesus Cristo”, “Filho Eterno do Pai feito homem”,
“Palavra definitiva do Pai”.
·
A fé cristã
não é uma “religião do Livro” mas da Palavra de Deus, não uma palavra escrita e
muda, mas do verbo encarnado e vivo”. (São Bernardo)
·
Não há
diferença entre crer no que Jesus “diz”, e o que Ele é. Não se trata de aderir
às ideias de Jesus, mas à sua pessoa.
·
“É Cristo
mesmo quem fala quando se leem as Sagradas Escrituras”. (SC, 7)
Pão e Palavra.
·
De modo
especial quando, na Celebração Eucarística, Cristo nos alimenta com sua Palavra
e seu Corpo.
·
Pão
Eucarístico e Palavra: a Igreja estabeleceu que se tributasse a mesma
veneração, embora não o mesmo culto. (VD,55)
O centro e a plenitude de toda a Escritura e de
toda a celebração litúrgica é Jesus Cristo, palavra e sinal do amor com que
Deus intervém e age para salvar seu povo: presença divina ativa entre nós.19
Ele é uma presença contínua na Igreja através da Eucaristia e dos demais
sacramentos, da assembleia e do ministro, da Palavra proclamada e da oração
comunitária. “Onde se proclama a sua soberania aí está o Senhor presente”, e,
realizando o mistério da salvação, nos santifica e presta ao Pai o culto
perfeito. A liturgia é a celebração da obra salvífica de Cristo. É ele quem
realiza o projeto do Pai.
Na proclamação da Palavra, Cristo continua falando a seu povo, como
profeta e sacerdote . Os fiéis, escutando a Palavra de Deus, reconhecem que as
maravilhas, ali anunciadas, atingem a plenitude no mistério pascal. A exemplo
das comunidades primitivas, os irmãos reunidos para a escuta da Palavra na
celebração fazem a experiência da presença viva do Ressuscitado. Pois, também,
através da celebração da Palavra de Deus, faz-se memória do mistério pascal de
Cristo morto e ressuscitado.
IGREJA = CASA DA PALAVRA
Assim como a
Eucaristia é um ato eclesial, assim também deve ser a Palavra: é na Igreja, e
somente na fé eclesial que se torna possível realizar-se a autêntica
interpretação da Sagrada Escritura.
AÇÃO SIMBÓLICA
Deus e a pessoa humana exprimem suas relações,
através de sinais, símbolos e objetos. A celebração da Palavra, como toda a celebração
litúrgica, se faz com “sinais sensíveis”. A participação do povo no
acontecimento celebrado expressa-se com palavras, gestos, ações e ritos. A
expressão simbólica da celebração “exprime e estimula os pensamentos e os
sentimentos dos participantes”. O gesto corporal revela a fé e a comunhão. Os
discípulos, ao verem o Senhor, “prostraram-se diante dele”. “O que vimos e
ouvimos vo-lo anunciamos para que estejais também em comunhão conosco. E a
nossa comunhão é com o Pai e com o seu Filho Jesus Cristo”.
A Palavra de Deus na liturgia é sinal celebrativo. É sinal
enquanto contém e expressa a realidade da salvação. Ela proporciona o encontro
da comunidade com o próprio Deus que se comunica e se faz presente em Jesus
Cristo.
A ESCUTA DA PALAVRA GERA VIDA NOVA
Quando Deus comunica a sua Palavra, sempre espera
uma resposta, que consiste em escutar e adorar “em Espírito e Verdade”. O
Espírito Santo age para que a resposta seja eficaz, para que se manifeste na
vida o que se escuta na ação litúrgica. Assim, procurem os fiéis, que aquilo
que celebram na liturgia seja uma realidade em sua vida e costumes e,
inversamente, o que fizerem em sua vida se reflita na liturgia.
A escuta da Palavra suscita o arrependimento e
estimula à conversão. “A Palavra de Deus é viva e eficaz, mais penetrante do
que qualquer espada de dois gumes; penetra até dividir alma e espírito,
junturas e medulas”. Ela põe em crise as situações erradas, provoca uma
revisão, suscita o compromisso. “Senhor, eis que eu dou a metade de meus bens
aos pobres, e se defraudei a alguém, restituo-lhe o quádruplo”.
As celebrações da Palavra de Deus atuam e
frutificam à medida que há uma resposta de vida de fé, de esperança e de
caridade da parte dos que escutam. A resposta de fé supõe explicação e
compreensão da Palavra. “Como é que vou entender se ninguém me explicar”? Daí
se pode entender a necessidade do estudo da Sagrada Escritura, a ser planejado
de maneira correspondente às necessidades das pastorais e da pastoral de conjunto.
Apoiando-se na Palavra de Deus, as pessoas se
tornam mais solidárias e fazem dos momentos celebrativos um encontro festivo e
comprometido com o próprio Deus da vida, que é Palavra que ama, salva,
transforma e liberta.
“Eis que estou
à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, eu entrarei em sua
casa, e tomaremos a refeição, eu com ele e ele comigo”. (Ap 3,20)
BUSCA E ENCONTRO
Deus não só
fala ao ser humano, também o busca. O ponto culminante dessa busca é a
Encarnação do Verbo. Não seríamos capazes de busca-lo, “se ele mesmo não
tivesse já vindo ao nosso encontro”. (Porta Fidei, 10)
A ponte que
permite o encontro entre Deus que busca e o ser humano que se deixa encontrar é
a FÉ.
RELAÇÃO ENTRE A PALAVRA DE DEUS E A
EUCARISTIA
A Igreja cresce e se edifica ao escutar a Palavra
de Deus e ao celebrar a eucaristia como memorial da morte e ressurreição de
Jesus Cristo, até que ele venha. A Palavra de Deus proclamada conduz à
plenitude do mistério pascal de Cristo crucificado e ressuscitado. Com efeito,
o mistério pascal de Cristo, anunciado nas leituras e na homilia, realiza-se
por meio da Eucaristia.
“A Igreja alimenta-se com o Pão da Vida na mesa da
Palavra de Deus e do Corpo de Cristo”. “Na Palavra de Deus se anuncia a aliança
divina e na Eucaristia se renova esta mesma aliança nova e eterna. Na Palavra
recorda-se a história da salvação, na Eucaristia a mesma história se expressa
por meio de sinais sacramentais”. Portanto, a Palavra conduz à Eucaristia. Se,
por um lado, a Palavra encontra sua realização na Eucaristia, por outro a
Eucaristia tem seu fundamento na Palavra.
O “OUTRO” E OS OUTROS
Para aquele
que crê, a leitura da Escritura é o início de um êxodo de si mesmo, para ir ao
encontro do Outro. Da experiência de comunhão com o Outro, nasce o desejo de partilhar
o amor vivenciado com “os outros”, para com eles também criar comunhão.
Cristo é o
perfeito “Sacramento do Encontro”. Encarna-se não somente para
revelar-se, mas também para “revelar o homem ao homem”. (Gaudium et Spes, 22)
A PALAVRA E O DISCIPULADO:
Exemplos
significativos de encontro são os relatos da vocação dos primeiros discípulos:
- Não existe
discípulo sem que o Senhor lhe tenha dirigido a palavra e ela tenha encontrado
resposta. “Seu chamado, seu olhar despertam uma resposta consciente e livre. É
um sim que compromete radicalmente a liberdade do discípulo a se entregar a
Jesus, Caminho, Verdade e Vida.” (DAp, 136)
Hoje também, A
Iniciativa continua sendo do Senhor, que nos convida a “estar com ele” (Mc
3,14) .
Hoje também
A Palavra de
Deus hoje está presente conosco, como o Senhor nos prometeu:
“Eis que estarei convosco, todos os dias, até
o fim dos tempos”. (Mt 28,20)
Da compreensão
da Revelação como “encontro do Deus que fala” e do “ser humano que escuta”,
por intermédio de Jesus Cristo, Sacramento deste encontro, nasce o desejo
apostólico de uma animação bíblica da Pastoral.
O ESTUDO DO SENTIDO LITERAL DA ESCRITURA.
“É o
fundamento de todos os sentidos (São Tomás de Aquino)” - São o “espelho de uma
época” ainda que a transcenda.
O sentido literal nos preserva de uma leitura
fundamentalista ou ideológica.
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O fundamentalista: Identifica
a letra com a Palavra - “aprisiona” a palavra (cf 2Tm 2,9) - Recusa o caráter
histórico da revelação.
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O ideológico: Projeta
sobre o escrito bíblico opiniões ou ideologias novas - Não é um ouvinte da
Palavra, mas indica o que ela deve dizer.
O SILÊNCIO
O Silêncio Favorece
a escuta (comunhão com a Palavra). No silêncio se descobre a possibilidade de
falar com Deus e de Deus.
“Temos necessidade do silêncio para chegar ao ponto
onde nasce a Palavra redentora” (Bento
XVI)
“ESPIRITUALIDADE DA ESCUTA”
·
A escuta é a
dimensão por excelência da Espiritualidade bíblica.
·
“Escuta,
Israel (Dt 6,4-5)
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Ouvir (é físico/externo) - Escutar (abertura do coração)
LEITURA ORANTE
A Verbum
Domini deu grande ênfase nos pequenos e grandes encontros, seja valorizado esse
exercício de leitura da Palavra.
·
Lectio Divina
(1-Leitura, 2-Meditação, 3- oração e contemplação, 4- ação)
·
“A base de
toda a espiritualidade cristã autêntica e viva, está a Palavra de Deus, anunciada,
acolhida, celebrada e meditada na Igreja”. (VD 121)
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Quando a
Palavra de Deus entra na vida das pessoas, tornam-se testemunhas corajosas.
·
A própria vida
se converte em mensagem que transforma o mundo ao seu redor.
·
A relação
frequente e comprometida com a Palavra de Deus leva à conversão pessoal.
DIÁLOGO ECUMÊNICO
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Se os cristãos
se dividiram pela interpretação da Palavra, ao redor dela poderão se
reencontrar.
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Orar com a
Palavra, ouvir juntos, a Palavra.
·
Superar nossa
surdez àquelas palavras que não estão de acordo com nossas opiniões, para
alcançar a unidade da fé.
CONCLUSÃO
Vivemos, novo
Pentecostes. A vida e a missão da Igreja se iluminam com a Palavra, particularmente
a Catequese, a Liturgia e o testemunho da caridade.
Maria, que
teve a vida toda modelada pela Palavra, intercede por nós. Nós também podemos
gerar Cristo pela escuta da Palavra. Que a intercessão de Maria nos faça
crescer na fé, esperança e amor.
Fonte: Trechos
dos documentos da CNBB – Discípulos e servidores da Palavra de Deus na Missão
da Igreja.