Linda
oração de Santo Agostinho para aqueles que anseiam um ardoroso encontro com Cristo Misericordioso, buscando, louvando, adorando à Deus.
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Inquieto
está o nosso coração,
enquanto
não repousa em ti
"Grande és tu, Senhor, e sumamente louvável: grande é
a tua força, e a tua sabedoria não tem limites! Ora, o homem, esta parcela da criação,
quer te louvar, este mesmo homem carregado com sua condição mortal, carregado
com o testemunho de seu pecado e como testemunho de que resistes aos soberbos.
Ainda assim, quer louvar-te o homem, esta parcela de tua criação! Tu próprio o
incitas para que sinta prazer em louvar-te. Fizeste-nos para ti e inquieto está
nosso coração, enquanto não repousa em ti.
Dá-me, Senhor, saber e compreender o que vem primeiro: o invocar-te ou o
louvar-te? Começar por conhecer-te ou por invocar-te? Mas quem te invocará sem
te conhecer? Por ignorância, poderá invocar alguém em lugar de outro. Será que
é melhor seres invocado, para seres conhecido? Como, porém, invocarão
aquele em quem não creem? ou como terão fé, sem anunciante?
Louvarão o Senhor aqueles que o procuram. Quem o procura encontra-o e tendo-o encontrado, louva-o. Buscar-te-ei,
Senhor, invocando-te; e invocar-te-ei, crendo em ti. Tu nos foste anunciado;
invoca-te, Senhor, a minha fé, aquela que me deste, que me inspiraste pela
humanidade de teu Filho, pelo ministério de teu pregador. Invocarei o meu Deus,
o meu Deus e Senhor: mas como? Porque ao invocá-lo eu o chamarei para dentro de
mim. Que lugar haverá em mim, aonde o meu Deus possa vir? Aonde virá Deus em mim,
o Deus que fez o céu e a terra? Há, então, Senhor, meu Deus, algo em mim que te
possa conter? O céu e a terra, que fizeste e nos quais me fizeste, são eles
capazes de te conter? Ou, se sem ti nada existiria de quanto existe, é porque
tudo quanto existe te contém?
Portanto eu, que também existo, que tenho de pedir tua vinda em mim, em mim que
não existiria se não estivesses em mim? Ainda não estou nas profundezas da
terra e, no entanto, ali também estás. Pois, mesmo que desça às
profundezas da terra, ali estás. Não existiria, pois, meu Deus, de forma
alguma existiria, se não estivesses em mim. Ou melhor, não existiria eu se não
existisse em ti, de quem tudo, por quem tudo, em quem todas as coisas
existem? É assim, Senhor, é assim mesmo. Para onde te chamo, se já
estou em ti? Ou donde virás para mim? Para onde me afastarei, fora do céu e da
terra, para que lá venha a mim o meu Deus, que disse: Eu encho o céu e
a terra?
Quem me dera descansar em ti! Quem me dera vires a meu coração, inebriá-lo a
ponto de esquecer os meus males, e abraçar-te a ti, meu único bem! Que és para
mim? Perdoa-me, se falo. Que sou eu a teus olhos, para que me ordenes amar-te
e, se não o fizer, te indignares e ameaçares com imensas desventuras? É acaso
pequena desventura não te amar?
Ai de mim! Dize-me, por compaixão, Senhor meu Deus, o que és tu para mim. Dize
à minha alma: Sou tua salvação. Dize de forma a que ela te escute.
Os ouvidos de meu coração estão diante de ti, Senhor. Abre-os e dize à minha
alma: Sou tua salvação. Correrei atrás destas palavras e
segurar-te-ei. Não escondas de mim tua face. Morra eu, para que não morra, e
assim possa contemplá-la!"
Dos Livros das Confissões, de Santo Agostinho, bispo
(Lib. 1,1.1-2.2; 5,5: CCL 27,1-3) (Séc.V)
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