- Um dia, em certo lugar, Jesus rezava. Quando terminou, um de seus
discípulos pediu-lhe:
“Senhor, ensina-nos a orar como
João ensinou a seus discípulos”. É em resposta a este pedido que o
Senhor confia a seus discípulos e à sua Igreja a oração cristã fundamental, o “Pai-Nosso”.
Pai Nosso que estais no céu…
- Se rezamos verdadeiramente ao “Nosso Pai”, saímos do individualismo, pois o Amor que acolhemos nos
liberta (do individualismo). O “nosso”do início da Oração do Senhor, como o “nós” dos quatro últimos pedidos, não exclui ninguém. Para que seja
dito em verdade, nossas divisões e oposições devem ser superadas.
É com razão que estas palavras “Pai Nosso que estais no céu” provêm
do coração dos justos, onde Deus habita como que em seu templo. Por elas também
o que reza desejará ver morar em si aquele que ele invoca.
Os sete pedidos
- Depois de nos ter posto na presença de Deus, nosso Pai, para
adorá-lo, amá-lo e bendizê-lo, o Espírito filial faz subir de nossos corações
sete pedidos, sete bênçãos:
- Os três primeiros pedidos nos leva em direção a Ele, para Ele:
Vosso Nome, vosso Reino, vossa Vontade!
É próprio do amor pensar primeiro naquele que amamos.
- Em cada um destes três pedidos não nos mencionamos, mas o que se
apodera de nós é “o desejo ardente”, “a angústia”, do Filho bem-amado para a
Glória de seu Pai: “Seja santificado… Venha… Seja feita…”:
Essas três súplicas já foram atendidas pelo Sacrifício do Cristo
Salvador, mas se elevam doravante, na esperança, para seu cumprimento final,
enquanto Deus ainda não é tudo em todos.
- Os quatro últimos pedidos desenrolam-se no ritmo de certas
invocações eucarísticas: é apresentação de nossas expectativas e atrai o olhar
do Pai das misericórdias. Sobe de nós e nos diz respeito desde agora,
neste mundo:
- dai-nos… perdoai-nos… referem-se à nossa vida, como tal, seja
para alimentá-la, seja para curá-la do pecado.
- não nos deixeis… livrai-nos... referem-se
ao nosso combate pela vitória da Vida, o combate da própria oração.
Santificado seja o Vosso
Nome…
- Na água do Batismo fomos “lavados, santificados,
justificados em nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito de nosso Deus”.
Durante toda nossa vida, nosso Pai “nos chama à santidade”. E, já que é “por
ele que vós sois em Cristo Jesus, que se tornou para nós santificação“,
contribui para sua Glória e para nossa vida o fato de seu nome ser santificado
em nós e por nós. Essa é a urgência de nosso primeiro pedido.
Quem poderia santificar a Deus, já que é Ele mesmo quem santifica?
Mas, inspirando-nos nesta palavra: “Sede santos porque eu sou Santo”, nós
pedimos que, santificado pelo Batismo, perseveremos naquilo que
começamos a ser. Pedimos todos os dias, porque cometemos faltas todos os dias e
devemos purificar-nos de nossos pecados por uma santificação retomada
sem cessar… Recorremos, portanto, à oração para que esta santidade permaneça
em nós.
Venha a nós o Vosso Reino…
- O Reino de Deus existe antes de nós. Aproximou-se no Verbo
encarnado, é anunciado ao longo de todo o Evangelho, veio na morte e na
Ressurreição de Cristo. O Reino de Deus vem desde a santa Ceia e na
Eucaristia: ele está no meio de nós. O Reino virá na glória
quando Cristo o restituir a seu Pai:
O Reino de Deus pode até significar o Cristo em pessoa, a
quem invocamos com nossas súplicas todos os dias e cuja vinda queremos apressar
por nossa espera. Assim como Ele é nossa Ressurreição, pois nele nós
ressuscitamos, assim também pode ser o Reino de Deus, pois nele nós
reinaremos.
Seja feita a Vossa Vontade,
assim na terra como no céu…
- Pela oração é que podemos “discernir qual é a vontade de
Deus” e obter “a perseverança para cumpri-la”.
Jesus nos ensina que entramos no Reino dos céus não por palavras, mas “praticando a vontade de meu Pai que
está nos céus” (Mt 7,21).
“Se alguém faz a vontade de Deus, a este Deus escuta”(Jo
9,31).
Tal é a força da oração da Igreja em Nome de seu Senhor, sobretudo na
Eucaristia; é comunhão de intercessão com a Santíssima Mãe de Deus e com todos
os santos que foram “agradáveis” ao Senhor por não terem querido fazer senão a Sua
Vontade.
O pão nosso de cada dia nos
dai hoje…
“Reza e trabalha.” “Rezai como se tudo dependesse de Deus e
trabalhai como se tudo dependesse de vós.” Tendo realizado nosso
trabalho, o alimento fica sendo um dom de nosso Pai; convém pedi-lo e
disso render-lhe graças. É esse o sentido da bênção da mesa numa família
cristã.
- Este pedido e a responsabilidade que ele implica valem também para
outra fome da qual os homens padecem: “O homem não vive apenas de pão,
mas de tudo aquilo que procede da boca de Deus”, isto é, Sua
Palavra e seu Sopro.
Os cristãos devem envidar todos os seus esforços para “anunciar o Evangelho aos pobres”. Há uma
fome na terra, “não fome de pão,
nem sede de água, mas de ouvir a Palavra de Deus” (Amós 8,11). Por
isso, o sentido especificamente cristão desse quarto pedido refere-se ao Pão
de Vida: a Palavra de Deus a ser acolhida na fé, o Corpo de Cristo
recebido na Eucaristia.
A Eucaristia é nosso pão cotidiano. A virtude própria deste alimento
divino é uma força de união que nos vincula ao Corpo do Salvador e nos faz
seus membros, a fim de que nos transformemos naquilo que recebemos… Este pão cotidiano
está ainda nas leituras que ouvis cada dia na Igreja, nos hinos que são
cantados e que vós cantais. Tudo isso é necessário à nossa peregrinação.
- O Papai do céu nos exorta a pedir, como filhos do céu, o Pão do céu,
Cristo: “é Ele mesmo o pão que, semeado
na Virgem, levedado na carne, amassado na Paixão, cozido no forno do sepulcro,
colocado em reserva na Igreja, levado aos altares, proporciona cada dia aos
fiéis um alimento celeste“.
Perdoai-nos as nossas
ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido…
- Neste pedido, nós nos voltamos ao Papai como o filho pródigo, e nos reconhecemos pecadores,
diante dele, como o publicano (Lc 15, 11-32; 18,13).
- Nosso pedido começa por uma “confissão”, na qual declaramos, ao mesmo
tempo, nossa miséria e Sua Misericórdia.
- Este mar de misericórdia não pode penetrar em nosso coração
enquanto não tivermos perdoado aos que nos ofenderam.
- O amor, como o Corpo de Cristo, é indivisível: não podemos amar o
Deus que não vemos, se não amamos o irmão, a irmã, que vemos.
Recusando-nos a perdoar nossos irmãos e irmãs, nosso coração
se fecha, sua dureza o torna impermeável ao amor misericordioso do Papai.
- Confessando nosso pecado, nosso coração se abre à sua graça.
Oremos: Por livre
vontade e a exemplo de Jesus, perdoo, rezo, amo, abençoo e agradeço a Deus
pela vida de todas as pessoas que sinto que me rejeitam, me odeiam e
amaldiçoam, não me amam, não me aceitam, me difamam e perseguem.
Não nos deixeis cair em
tentação…
- Este pedido atinge a raiz do precedente, pois nossos pecados são
fruto do consentimento na tentação. Pedimos ao nosso Papai que não nos “deixe
cair” nela. Nós lhe pedimos que não nos deixe enveredar pelo caminho que
conduz ao pecado. Estamos empenhados no combate “entre a carne e o Espírito”.
Este pedido implora o Espírito de discernimento e de fortaleza.
- O Espírito Santo nos faz discernir entre a provação, necessária ao
crescimento do homem interior em vista de uma “virtude comprovada”, e a tentação,
que leva ao pecado e à morte. Devemos também discernir entre “ser tentado
e consentir” na tentação. Por fim, o discernimento desmascara a mentira da tentação:
aparentemente, seu objeto é “bom, sedutor para a vista, agradável” (Gn
3,6), ao passo que, na realidade, seu fruto é a morte.
Livrai-nos do mal…
- O último pedido ao nosso Papai aparece, também, na oração de Jesus: “Não
te peço que os tires do mundo, mas que os guardes do maligno” (Jo
17,15).Diz respeito a cada um de nós pessoalmente, mas somos sempre “nós” que
rezamos em comunhão com toda a Igreja e pela libertação de toda a família
humana.
“Homicida desde o princípio, mentiroso e pai da mentira” (Jo 8,44),“Satanás,
sedutor de toda a terra habitada” (Ap 12,9), foi por ele que o pecado
e a morte entraram no mundo e é por sua derrota definitiva que a criação toda
será “liberta da corrupção do pecado e da morte”.
- Ao pedir que nos livre do maligno, pedimos igualmente que
sejamos libertados de todos os males, presentes, passados e futuros, dos quais
ele é autor ou instigador.
- Neste último pedido, a Igreja traz toda a miséria do mundo diante do
Pai. – Com a libertação dos males que oprimem a humanidade, ela implora o dom
precioso da paz e a graça de esperar perseverantemente o retorno de Cristo.
Rezando dessa forma, ela antecipa, na humildade da fé, a recapitulação de todos
e de tudo naquele que…
“detém as chaves da morte e do hades” (Ap 1,18),
“O Todo-Poderoso, Aquele que é, Aquele que era, Aquele que vem” (Ap
1,8).
(CIC-Catecismo da Igreja Católica §2759-2865)
Fonte: Desejo Santo